sábado, 25 de setembro de 2010
O Deserto e o Peregrino
O Peregrino cavalga no silêncio misterioso do deserto. Seus passos descompassados metidam por sobre às aréias cristalinas, e a brisa do leste beija-lhe à face. Afável, os ventos murmuram aromas suaves que embriagam-lhe os sentidos. O peregrino, caminha, desconcertado, pelo mar de aréias, em busca do conhecido aroma; suas mãos trêmulas se lançam no espaço numa procura insana pelo que sentira durante toda a sua vida, mas que o tédio e a mesmice havia dissipado.O espesso véu do horizonte cobre-lhe o rosto, fazendo-o suar gotas de sangue. O sol torna-se escaldante e derrama sua luz translúcida e brilhante no leito do deserto, deixando-lhe ofegante e quase sem respiração. As horas se passam, e o Peregrino quase inconsciente continua sua busca incenssantemente.
A sede aumenta sua ânsia e ele debruça seus olhos na vermelhidão desertica. Para, se absorve em profundo silêncio e procura escutar as vozes do deserto.
- O homem e sua ambiciosa busca.
Ele escuta nitidamente e se apresenta para a imensidão que cobre-lhe por completo.
- Sou um Peregrino Poeta, vim para o deserto para embriagar-me de novas experiências e de me reconciliar com o meu aroma, outrora amante dedicado, mas agora ausente, enchendo-me de dor e aflição!
- Homem mortal, sua busca é diferente de outros que por aqui passaram. Veja, como o homem, embora coberto de vaidades e de ambições desmedidas, é tão pequeno frente a mim, sobrepuja-se à minha imensidão sem fim.
O Peregrino-Poeta ouve a voz à trespassá-lo.
- Sim, mas não submeto-me a tais caprichos, pequenos e mesquinhos. Minha busca é pela vida, por aquilo que me faz sentir viver plenamente.
- O que você busca? - Perguntou o Deserto.
- Meu aroma, a poesia mais perfeita e completa.
- Mas por que veio procurá-la em meu manto? Perguntou-lhe novamente o Deserto.
- Queria afastar-me das multidões dos grandes centros urbanos, da pedra de selva e confusa. Buscar o Silêncio e a Solidão.
- Aqui está sozinho, e eu o vi andando e deixando seus passos por sobre mim. Vejo que está ofegante e muito cansado, com fome e com sede talvez?
- Sim, mas valeu a pena, pois já o vi e a preencher meus pulmões. Além do mais, meus dias estão se definhando, o tempo roubou-me a juventude e hoje só busco o mais perfeito dos poemas. Minha obra prima, e para isso eu precisava meditar no Silêncio e na Solidão, longe da confusão das cidades.
E assim o Peregrino-Poeta e o Deserto estavam Sendo um no outro na e pela Linguagem. A imensidão do deserto era o que ele buscava, para se reconciliar com seu aroma de poesias, e assim fazer sua última obra, a obra prima de sua vida.
O Deserto silencia-se e o Sol se deita no poente longíguo. O Peregrino-Poeta, quase sem forças, continua sua jornada. Sua respiração fraca, e seus olhos embaçados exergam por entre as trevas sombrias da noite...
Ele sorri e adormece.
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