segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Até que ponto o trabalho realmente dignifica o homem?



Os dias 6 e 7 de novembro foram de bastante agito e correria por parte dos vestibulandos, pois foram os dias em que as provas do Exame Nacional do Ensino Médio (o famigerado Enem) foram aplicadas. Eu tive acesso às provas e muito me interessou o tema da redação, que era: “O Trabalho na Construção da Dignidade Humana”. Como veemente defensor dos trabalhadores, redigi um singelo texto sobre o tema.
A relação do homem com o trabalho é de suma importância. Através do trabalho que o homem transforma a natureza e a si mesmo. É uma forma de ele estabelecer relações de interação social, de entrar em contato com o outro, com a alteridade e assim se desenvolver subjetivamente. É na arte da labutação que o homem cria verdadeiros feitos: grandes obras literárias e filosóficas, prédios colossais e escolas, arquedutos, casas, parques e as mais variadas coisas que podemos imaginar. O trabalho é lúdico e prazeroso, e afirma o nosso status de seres racionais e culturais. Da matéria-prima dada pela natureza podemos criar meios para facilitar as nossas vidas. É conhecida a frase do ditado popular que diz que "o trabalho dignifica o homem", e assim o trabalho também nos reveste de dignidade e respeito, nos enobrece e enriquece como pessoa.
Porém, se analisarmos a realidade concreta em que o trabalho é efetuado, perceberemos que em muitas situações o trabalho não enobrece o homem, mas o leva ao embrutecimento. Basta-nos observar que nas sociedades contemporâneas de economia capitalista a relação que o homem estabelece com o trabalho, muitas vezes, deixa de ser uma relação digna, lúdica e prazerosa e passa a ser de degradação, submissão e alienação. O trabalhador de uma indústria, por exemplo, vende sua mão de obra em troca de um salário realmente irrisório porque está muito aquém de suas energias gastas, e onde é obrigado a se submeter a uma jornada de trabalho extremamente estressante e maçante, que o degrada física e psicologicamente. Embora a classe trabalhadora tenha obtido grandes vitórias para a melhoria das suas condições de trabalho, o ritmo estabelecido pelas indústrias é ainda muito degradante e penoso. Ele submete o trabalhador a realizar movimentos repetitivos e mecânicos, que geram muitas dores na coluna e nos músculos, e, além disso, também acaba deixando-o sem tempo disponível para se dedicar a outras atividades; investir nos estudos e no seu crescimento intelectual e cultural, por exemplo. Muitas vezes o trabalhador tenta conciliar o trabalho com o estudo, mas a falta de tempo faz com que a pessoa se transforme em um verdadeiro acrobata, pois para realizar duas atividades simultaneamente ele tem que aprender a se virar de qualquer jeito.
Além do mais, o trabalho realizado dessa maneira separa o homem do seu produto final, alienando-o daquilo que ele mesmo produziu. Também o torna ignorante às questões de interesse público, como: a política, educação, saúde, constituição, entre outras coisas; enfim, deixa o homem alienado da própria sociedade em que se encontra inserido. Assim, o trabalho que deveria ser uma forma de proporcionar a construção da dignidade humana se transforma, dentro do contexto de produção da economia vigente, em algo realmente penoso, desagradável, enfadonho e alienante, o que em última instância descaracteriza o homem, transformando-o numa coisa. Retificado e coisificado, o homem passa a ser apenas um joguete, uma mera peça de engrenagem para movimentar a maquinaria do sistema capitalista. Vale a pena mencionar o clássico filme Tempos Modernos, do brilhante cineasta e ator Charles Chaplin (1889-1977), que retrata de forma cômica a realidade do trabalhador dentro de uma indústria. É engraçado, bastante crítico e compensa assistir!
O Filósofo e Historiador Alemão Karl Marx é conhecido como o grande crítico desse modelo de produção, e dentre tantas teorias que ele escreveu, se destaca uma frase: "a historia da humanidade é a historia da luta de classes", e um dos aspectos onde essa luta acontece é no trabalho, na relação empregado e empregador, proletário e donos dos meios de produção. O fato é que a sociedade é dividida em classes e camadas sociais antagônicas, mas que é encoberta pela ideologia construída pela classe social dominante do poder econômico e político. Tal ideologia nos passa um conjunto de idéias, e a idéia mais difundida é a de que fazemos parte de uma sociedade harmônica, onde todos têm as mesmas oportunidades e possibilidades de ascender socialmente, entretanto, essa afirmação é uma falácia e seria um absurdo acreditar nisso.
Assim sendo, nas sociedades capitalistas a pirâmide social é hierarquizada e a classe trabalhadora é a responsável pela sua sustentação, mas, no entanto, se encontra na última posição da pirâmide social. Assim, toda a riqueza produzida pela sociedade é produzida pela classe trabalhadora, todavia, a maior fatia do bolo fica concentrada nas mãos de um pequeno grupo. Esse pequeno grupo são os donos dos meios de produção, os grandes empresários e barões do capital, os banqueiros e as gigantes das corporações multinacionais.
Concluo que o homem só irá gozar de plena dignidade quando o trabalho lhe proporcionar um salário efetivamente justo, e creio que isso só acontecerá quando toda a riqueza produzida pela classe trabalhadora for dividida de forma verdadeiramente igualitária. No calor da práxis eu vivencio de segunda à sexta, junto com muitos outros trabalhadores, essa realidade, isso quer dizer que meu relato é empírico, pois provêm de minha própria experiência. No mais, quero dizer que no modelo de exploração do homem pelo homem o trabalho é alienado, e ao invés de dignificar o homem o embrutece. Isso me faz lembrar da raiz etmológica da palavra "trabalho", que deriva do latim tripalium que significa: "instrumento de tortura, usado para torturar escravos".

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