quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Poesia e Poema

O que podemos entender de poesias e de poemas? Quando nos deparamos a essa questão o que instantâneamente vem em nossas mentes é o famigerado ponto de interrogação. Diante da poesia e do poema só podemos nos dispor de infindáveis especulações e perplexidades, e nunca, de maneira alguma, responder o que são.
A poesia e o poema sempre andaram ao lado do homem, despontado-se no período pré-socrático, na época quando os rapsodos-poetas declamavam suas poesias nas praças de Antenas, ou seja, séculos atrás antes de Cristo, revelando-nos assim, que ambas remontam aos primórdios da humanidade. O homem sempre se embriagou de sua bebida, como forma de se por vivo e de se vigorar enquanto homem: ser pensante. Portanto, nossa historia foi construída junto dela como forma de nos firmamos enquanto seres pensantes, culturais e, sobretudo, humanos. Mas isso não explica o que é poesia e tampouco poema. Entretanto, faz-se necessário nos lançarmos a esse percurso histórico e viajarmos a diferentes épocas em que o homem andou por sobre a Terra. Fazendo isso, notaremos que foram colocados uma série de conceitos acerca da poesia e do poema, quando a filosofia desdobra-se em ciência e esta estabelece inúmeras regras e normas inerentes para ambas. Sofreram uma série de dilacerações e embrutecimentos, pois fora infectadas pelo veneno de quererem conceituá-las. A História da Ciência da Literatura mostra-nos o quanto elas foram enlaçadas por mordaças que nada dizem a seus respectivo respeito. Procurar estabelecer regras/normas e classificações a sua natureza de nada responde o que ela é. Ora, será que para entender uma poesia devemos está munido de um conceito, ou de parâmetros e classificações? Não estaríamos assim, atribuindo qualidades que são externas a sua própria natureza?
Podemos aqui, fazer uma relação: poesia igual a chaos e poema igual a chosmos. Sabe-se que o chaos é o aberto e toda possibilidade e o chosmos é o arranjo, o ordenamento dessa abertura. Não obstante, isso ainda não explica o que é poesia e o que é poema. Como já foi dito, a Ciência procurou atribuir classificações a poesia e compartimentá-la dentro de uma caixinha: isso é poesia porque se enquadra aos parâmetros e as classificações impostas por mim (ciência). Soa até cômico para o poeta, grande artesão e arquiteto da poesia. Então, para ser poeta eu tenho que seguir uma série de regras? A poesia como objeto de estudo cientifico, onde são atribuídos critérios, parâmetros e conjunto de regras/normas só leva ao seu encobrimento e obscurecimento porque, limitando-se a essa parafernália de conceitos, baseamos a algo que é externo a ela.
A poesia precede o poema, é o brilho e a luz daquilo se mostra e o poeta se deixa apropriar e absorver por aquilo que se mostrou. A poesia é um fazer, mas um fazer de si mesma, se eclodi na ação e se configura no poema. O poema é a moldura, é a poesia esculpida e lapidada em palavras. Mas para o poema ser poema é necessário haver poesia? Um poema se faz pela poesia, que é o colher daquilo que se mostrou ao poeta, o que se mostrou foi colhido e transfigurado em poema, no entanto, a poesia não precisa ser poema, ela pode ser uma canção, uma pintura, um quadro, uma obra de arte, uma escultura etc.
Com a realidade dividida em duas dimensões estabelecida por Platão. Onde, na sua ótica, o mundo que captamos, através de nossas percepções sensoriais, não passa de uma projeção imperfeita e mera cópia do verdadeiro real oriundo do mundo supra-sensível das idéias. Nisso, a poesia sofre mais outra envenenação, pois essa concepção Platônica, também, foi atribuída a ela, na relação significante e significado. Para o Filosofo, o poeta estrava três degraus afastado da verdade, e o que ele fazia era criar uma cópia da cópia, já que o que ele virá era proveniente do mundo sensivel. Ora, a poesia está estritamente ligado aos sentidos, e o poeta melhor que ninguém sabe disso. Pois, ele de sentidos aguçados e embriagados consegue colhê-la e se permite apropriar por ela. vale lembrar, que a linguagem poética é muito diferente da instrumental que nos foi ensinada, através do processo de escolarização, desde pequenos, dessa forma, habituamo-nos ao sistema de signos línguisticos na relação significado e significante (signo e coisa significada, conceiutuada), a poesia rompe essa relação, pois nela transita a linguagem em seu estado puro e original.
A poesia é o que é e se cria a si mesma, não se prende as amarras de conceitos, ou seja, ela existe por si mesma e possui um fim em si mesma. Mas de onde ela emana e brota? Ela vem e se manifesta na coisa mais ordinária, mais pífia, idiota, estapafúdia e cotidiana que se possa imaginar, ela sempre está presente por todas as partes a nossa volta, nós só não conseguimos vê-la, percebê-la e colhe-la. A palavra poesia vem do Grego poiésis, é derivada da palavra poien que significa fazer, produzir, criar etc; sendo que poiésis quer dizer essência do fazer, do produzir, do agir, é a eclosão do criar.

A noite chuvosa é só uma noite chuvosa para alguém de sentidos amortecidos, mas para o poeta “a chuva abraça a noite, se harmoniza aos ventos, cujas gotas cristalinas beijam o solo infértil e revifica a flor sob o crepúsculo.”

Certa vez Santo Agostinho citou: O que é o tempo? Se não se pergunta o que é o tempo, eu sei, mas se se pergunta o que é o tempo, eu não sei. E assim é a poesia, os poetas sabem o que ela é, pois a vive em toda sua envergadura e presença, mas não sabem responde-la.
A poesia para o poeta é a sua maneira de ser, dele se por vivo e ser aquilo que ele é: Poeta. Sem a palavra o poeta não poetiza, ela é a sua matéria-prima e é através dela que ele lapida a poesia.
A melhor maneira de sabermos o que é poesia e poema é deixar que ela se fale por si mesma, e para isso é preciso freqüentá-las, lê-lás, interpelar nos fios de seus tecidos. Infelizmente, no ritmo acelerado em que vivemos não nos dispúnhamos de tempo para lê-las. E ela, acaba ganhando uma conotação de inutilidade, já que não serve para nada, só para embriagarmos.
Nessa pequena dissertação sobre poesia e poema a resposta do que ela é não foi colocada. Essa pergunta requer horas de reflexão e ao caminharmos pelo tempo não obteremos a resposta. Isso ocorre, devido a sua grandiosidade, cuja magnificência não pode ser respondida, os poetas a conhecem muito bem, no entanto, não conseguem dá-lhe uma resposta.

Quando abrirmos as portas da percepção descobriremos como as coisas realmente são: infinitas (Jim Morrison)”.

“O poeta se torna vidente depois de um longo desregramento de todos os seus sentidos (Arthur Rimbaud)”

Essas duas frases vêm bem a calhar. Revela-nos que, somente quando desconstruirmos o muro metafísico atribuído a ela e quando desatarmos os nós de nossas consciências é que perceberemos o real na sua essência, ou seja, a poesia. E os poetas, pensadores, filósofos, artistas já fizeram isso, conseguem vê-la, capta-la e colhê-la.

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