quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Lua de prata


Era em noites cálidas
Que a lua de prata surgia.
Ela brilhava irradiante
À beijar, sobre o crepúsculo,
A flor desbotada.

Mesmo coberta pelo véu da noite
Dominava o céu e embriagada
Afagava o canto dos (e)namorados.

Era magnífica vê-la
Entre o mar de estrelas
Mostrando-se divina e envaidecida
Para os andarinhos errantes
Amantes da poesia.

Ela sorria embevecida
Um sorriso de ressaca
E desdobrava-se toda numa
Cadência ritmada.

Recôndita reluzia enfeitiçada
E refletia-se sutilmente
Na embriaguez azul
Dos olhos seus.

Ela ostentava uma beleza
Transcedente que iluminava
E encantava.

Mas hoje
Não há mais noites cálidas
Nem lua de prata
Só o coração a clamar
Amargo e desiludido
A sua falta demasiada!

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Travessia da lua


O dia envelheceu

Desfazendo a luz da aurora.

Surgi a lua atravessando nuvens densas

Carregadas dos cantos dos

Passaros mecânicos e

Das baforadas esfumaçantes das bocas

Das indústrias.

Ela surgi e banha enraivecida a cidade adormecida.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Nas noites sombrias



Nas noites sombrias
Caminho entre ruas silenciosas
E solitárias,
Ouvindo sussuros e gemidos
A procura de seus passos.

Contemplo o céu taciturno,
Vazio de estrelas
E ausente da luz translúcida
Do luar!
Atravesso o manto da noite,
Abraço a vertigem
E destruo as tormentas
E o frio inóspito que congela;

Ouço os ecos dos meus pensamentos
E o batimento do coração
Que pulsa ofegante e aceleradamente
Sedento de poesia e de amor.

Meus olhos penetram nas sombras,
Quebram as correntes gélidas dos ventos
E pecorrem entre as torrentes ríspidas
Em busca dos seus.

Vago solitário pelas ruas escuras
Na tentativa de te encontrar
E nos teus braços me perder
E em súbito instinto beijar as cifras
De palavras de seus lábios.

Nas noites sombrias
Almejo te encontrar,
Tua face de sonhos e magias tocar
E despido das sombras
Em realidade transformar:
A tempestade em felicidade,
Noite em dia, trevas em luz
E dor e amor em poesia.

sábado, 25 de dezembro de 2010

Tempo, poderoso tempo!


Tempo, poderoso tempo!
Seu enlaçe caleja amarras
Atadas pelas forças impiedosas do destino.
Impetuoso e indomável,
Em sua calçada constrói experiências humanas
E no espelho marcas que tange dores infidáveis.

Tempo, poderoso tempo!
Vem sem freio e sem medida
Abatendo a vida.
Despi o véu dos dias,
Come gradativamente a carne
E definha o corpo
Inundando a pele de rugas.

Tempo, poderoso tempo!
Esquarteja vorazmente
E dissipa a vaidade do homem,
Deixando dores e angústias
Intermináveis.

Tempo, poderoso tempo!
Queria quebrar seu ciclo
Desenhar meu próprio destino
E ter seu domínio
Mas sou um mero boneco em sua roda
Que gira implacávelmente
Como um rolo compressor
Devorando e ursupando minha vida
Sem o meu consetimento.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Sinfonia do caos


Imersos em meus pensamentos
me perco entre o real e o irreal
deslumbro a imensidão obscura
e num mar de cinzas meu espírito vaga.

Na sinfonia do caos
vida e morte se entrelaçam
dor e destino se confrontam

Alucinações e devaneios
perturbam a mente.
Tempestades e tragédias
consomem a alma.

Mergulho nas profundezas
abissais do ser e
vejo um vazio infinito
de viver verdadeiramente
trocando passos com a solidão.

Dor sem precedentes


Uma dor sem precedentes dilata meu coração.
Veio como uma chuva inesperada de verão
que apossou-se de mim sem minha permissão.
Sinto-me asfixiado e perdido em meio ao vão.
Queria uma navalha para cortar meus pulsos
e sentir o sangue derramar como se fosse a dor
a desmanchar.
Não mais respiro, não mais sinto
o oxigênio a inflamar meus pulmões.
Só uma angústia insuportável
e uma dor intensa
a estagnar meus dias,
dilacerar minha alma e
corroer minha vida.


Escrito em uma noite fria e chuvosa!

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Educação Indígena

Ao estudarmos a historia da educação e viajarmos pelo tempo, iremos perceber que a educação nem sempre foi à mesma dos dias atuais e que há diversos modelos e diferentes formas dela ser transmitida.
Nas sociedades tribais, por exemplo, a educação é difusa. Isso significa que o saber e o conhecimento é aberto à todos, ou seja, é igualmente transmitido para todos os membros da comunidade, visando a formação integral e universal dos mesmos.
A educação, na sociedade tribal, diferentemente das sociedades complexas, é transmitida espontânea e naturalmente para todos. As crianças indígenas aprendem imitando os gestos dos adultos nas atividades diárias e nas cerimônias dos rituais, e elas aprendem para a vida e por meio da vida, os costumes, os valores, e as crenças que configuram a cultura da tribo, e isso acontece sem que alguém esteja especialmente destinado para a tarefa de ensinar. Assim sendo, na sociedade tribal, não há a existência da instituição escola controlada por um Estado, como acontece nas nossas sociedades, pois a organização social das tribos se baseia em uma estrutura que mantêm homogêneas as relações, sem a dominação de um ou outro segmento. Em decorrência disso, a sociedade tribal é homogênea, una, indivisível e sem classes, onde a terra pertence a todos e o trabalho e seus produtos são coletivos.
Entretanto, as sociedades tribais sempre foram vítimas de forças externas onde o modelo difuso de sua educação, que é responsável pela transmissão dos valores, costumes e crenças do arcabouço cultural, foi violentamente agredida.
O filme "A Missão" explicíta muito bem isso, a maneira em que os índios foram doutrinados, por meio da catequização e evangelização da instituíção católica através das missões jesuíticas. Além disso, o filme relata, também, o massacre em que os índios foram submetidos.
Esse pequeno texto é só uma introdução que nos lança a outras visões, pois demonstra o quanto a Educação possui diferentes roupagem, onde em cada sociedade há um modelo próprio, que se enguadra aos parâmetros do seu sistema político, social e econômico.


Referência Bibliografica

Aranha, Maria Lúcia de Arruda. História da Educação. Sp. Ed. Moderna, 2002

domingo, 12 de dezembro de 2010

O Livro



Na solidão do encontro ponho-lhe aleatoriamente em minhas mãos.
A minha ânsia pelo saber me faz pecorrer caminhos desconhecido.
Atravesso a porta, fixo os olhos em suas ardentes páginas e o
pensamento se compenetra a linguagem indecifrada.
Debruço-me na imensidão de palavras não lidas, e ainda
ininteligíveis ao meu espírito inquieto que vaga de encontro a elas.
Anseio abraçar a tessitura costurada pela linguagem e me enlaçar em seus fios.
Mergulhar no mar incomensurável de infidável mistério, luz e conhecimento.
E assim desencadeiar as sombras que me cercam, prendem e limitam...
Quebrar minhas algemas e dilatar meus grilhões,
Desregramento dos meus sentidos e o
despertar da consciência inundada de ilusões!

sábado, 27 de novembro de 2010

Até onde vão os limites do consumo?


Certo dia estive refletindo sobre os valores humanos e me fiz a seguinte divagação: o consumo desmedido é natural do ser humano ou provêm dos apelos publicitários e midiáticos? Depois pensei no quanto a mídia e a publicidade influenciam as pessoas, e o quanto essa pergunta era pertinente, pois está fortemente atrelado ao modelo de sociedade em que vivemos.
É certo que o modelo econômico atual desencadeou mudanças históricas, sociais e culturais profundas, e evidentemente comportamentais, no modo de ser e pensar das pessoas, evidenciada na hiper-valorização que damos à mercadoria e proporcionalmente a desvalorização dada a vida humana. Valores éticos e morais declinaram, e a mercadoria passou a reger a vida das pessoas e a ser o principal objetivo delas. Ou seja, o que vemos é a constatação do antigo dilema filosófico, a guerra de duas coisas completamente opostas e dicotomicas: o Ser versus o Ter.
Vivemos hoje em uma sociedade de consumo onde o valor do homem na maioria das vezes é medido pelas suas posses materiais. Isso significa que se um indivíduo possui um determinado bem material, como um carro, uma moto, uma calça jeans da moda ou aquele tênis de marca, por exemplo, terá prestígio perante a sociedade, fazdendo-o ser reconhecido, admirado e até mesmo invejado por muita gente. Hoje os bens materiais fornecem ao homem status social. Há no homem um desejo natural de alimentar o ego ou de querer algo, entretanto, o que deparamos é a afloração desse desejo por parte da ideologia do consumismo que rege a sociedade. É notório que o capitalismo constrói uma sociedade voltada para o consumo, onde o homem é estimulado para a aquisição de bens materiais, ou seja, ao consumo; consumo este, muitas vezes desmedido e alienado, pois não provêm de uma reflexão feita por parte do sujeito, mas por apelos publicitários e midiáticos que o faz comprar algo desnecessário, como um bem superflúo e que nada acrescentará à sua vida, apenas a preencher o desejo que fora estimulado artificialmente pela publicidade. Nessa ótica, o produto passa a ser um fim em si mesmo e não um meio. Há o consumo consciente e o consumo alienado e desmedido. O consumo de forma alienada e desmedida por bens materiais supérfluos atende as demandas da lógica do mercado, pois é a chave mestra do capitalismo, ou o parafuso que faz a engrenagem andar, e consumindo a maquinaria continua funcionando. Para que haja consumo a ideologia do sistema inculca valores nas pessoas, de modo que fazem-nas acreditar que o ter é mais que o ser, ou que preenche o vazio desse. Já o consumo consciente provêm de uma reflexão crítica feita pelo sujeito, buscando comprar aquilo que é realmente necessário para si.
Há um verdadeiro aparato para estimular o homem a consumir aquilo que ele não precisa. Há uma grandiosa indústria que com seus tentáculos não deixa ninguém imune, pois pega à todos, até mesmo o índio que é fruto de outra cultura e vive na sua comunidade longe dos shopping centers de nossas cidades. Hojem em dia não é muito difícil ver um índio com um celular nas mãos, ou um tênis de marca e até mesmo bebendo uma coca-cola. É a caixinha de ilusões (televisão) que chegou nas comunidades indígenas, atendendo a exigência do sistema de adquirir mais consumidores, sem medir esforços para fisgá-los, mesmo agindo de forma etnocêntrica, desrespeitando a sua cultura.
O Conar (Consellho Nacional de Auto Regulamentação Publicitária) critica a publicidade quando ela é usada de forma enganosa e irresponsável. A publicidade comercial é a que estimula o consumo, e é considerada uma das principais ferramentas, senão a principal, do modelo econômico vigente. As agências publicitárias, através dos comerciais televisos, procuram convencer às pessoas que com a obtenção de produtos e a acumulação do mesmo irão ser felizes, ou seja, a publicidade procura vender a felicidade, mas não consegue. O carro é o sonho de consumo de todos e para adquirí-lo trabalhamos até derramarmos a última gota de suor.
Nesse cenário de consumismo devemos observar também as crianças. Quais são os valores que as crianças estão aprendendo, e que a sociedade de consumo passa para elas? O documentário "Criança, a alma do negócio" (link para o video no final do texto) produzido por Estela Renner e Marcos Nistie, foi exibido no dia das crianças pela TV Senado, fala a esse respeito. Nele é exposto um lado da publicidade que muito preocupa uma gama de profissionais, como psicólogos, sociólogos, educadores e muitos pais Brasil afora, e que influência diretamente na formação dos valores das crianças, por serem hipervulneráveis à tudo, já que estão em fase de desenvolvimento emocional e psicológico, é a propaganda voltada para o público infantil. Segundo o que é exposto no documentário, a criança brasileira passa muitas horas em frente da televisão, sendo submetida a um forte bombardeio publicitário de disseminação de valores consumistas e de competitividade. A competitividade é evidenciada nas crianças quando um menino não possui o brinquedo do momento ou o tênis de marca, e passa a ser excluído por causa disso. E a menina que não está na moda e não tem aquele celular de última geração não entra no grupinho ou não faz parte da galera. O documentário mostra também que hoje em dia as bonecas tornaram-se projeções, um modelo ideal pela qual muitas meninas estão se espelhando. Antigamente muitas bonecas possuíam a aparência de bebês, hoje elas tem características de uma mulher adulta, e que se enquadra aos padrões de beleza desejado: chique, bonita e da moda; ou seja, a boneca barbie, por exemplo, é vista como um modelo de inspiração, pois muitas meninas querem se parecer ou até mesmo serem como ela. Os pais reclamam que seus filhos estão com hábitos extremamente consumistas, e os profissionais dizem que a influência exercida pela propaganda é muito ruim para o desenvolvimento das crianças, o que para mim, na minha humilde opinião, considero algo realmente terrível, inescrupuloso e anti-ético. Olha só os valores com que as crianças estão crescendo, e que a mídia passa para elas, estão aprendendo a serem futuros consumidores, a serem pessoas superficiais e a avaliar o outro pelo seus bens materiais e pelo tamanho de sua riqueza. O que queremos: futuros consumidores ou cidadãos?
Os pais se perguntam: "Por que meu filho sempre me pede um brinquedo novo? Por que minha filha quer mais uma boneca se ela já tem uma caixa cheia de bonecas? Por que meu filho acha que precisa de mais um tênis? Por que eu comprei maquiagem para minha filha se ela só tem cinco anos? Por que meu filho sofre tanto se ele não tem o último modelo de um celular? Por que eu não consigo dizer não? Ele pede, eu compro e mesmo assim meu filho sempre quer mais. De onde vem este desejo constante de consumo?" Assim, como é dito no documentário, as crianças estão aprendendo a serem adultos em miniaturas, deixando de serem crianças,(pois não brincam mais, não se divertem mais), para, precocemente, se transformarem em adultos ou melhor, em consumidores.
Segundo ainda o documentário, muitos países regulamentaram a publicidade voltada para crianças e proibiram a exposição de propagandas que estimulem o consumo durante os intervalos dos programas infantis. Para especialistas, a publicidade para as crianças deve ser regulamentada pelo Estado Brasileiro para que assim haja um freio na sua ação, muitas vezes, imoral, cuja única ética é a ética da lógica do mercado. Podemos entender que a publicidade comercial tem como único objetivo a implantação de uma cultura desenfreada de consumo e assim atender a lógica e as demandas do sistema capitalista.
A desvalorização do homem e a supervalorização de coisas e bens materiais é chamada por Karl Marx de fetichismo da mercadoria, onde uma mercadoria que é uma coisa, um ser inanimado passa a possuir características humanas, pois os bens materiais passam a ser considerados maiores do que o próprio ser humano, e o homem passa a ser descaracterizado, coisificado e desvalorizado. Assim sendo, passamos a medir o valor de uma pessoa pelo carro que ela possui, pelo seu emprego ou pela sua conta bancária.
As mudanças históricas, sociais e culturais acarredadas pelo modelo econômico atual e a sua ação ideologica, configuraram o nosso modo de ser e pensar atingindo, também, na forma com que nos relacionamos afetiva e amorosamente uns com os outros, fazendo-nos acreditar que o primeiro critério para avaliar um possível parceiro(a) é a quantidade de bens materiais que este ou esta possui, desconsiderando o caráter e os valores que as pessoas carregam. Além do mais, outro fenômeno das sociedades de consumo é o individualismo. Nos tornamos mais individualistas, e segundo o ativista político Frei Betto a ideologia neoliberal repercuti na forma com que nos comportamos, pois tornamos pessoas mais privadas e menos coletivas, e passamos a preocupar somente com os nossos projetos pessoais, com a roupa que queremos comprar ou com o curso que queremos fazer, e as questões de interesse público (coletivo), como saúde, educação, desigualdade social, passam despercebidas por muita gente.
Esse artigo é somente um esboço, onde procuro descrever um tema bastante complexo e polêmico, mas numa opinião pessoal acredito que vivemos numa realidade camuflada por valores consumistas, e a publicidade usada de forma enganosa e irresponsável tem um papel fundamental na difusão desses valores. Acredito que somos levados através do poder da ideologia, disseminada nos meios de comunicação de massa, a sermos pessoas fúteis, superficiais e extremamente consumistas. O sistema influência na dinâmica das relações humanas, e assim passamos a valorizar o outro pelo seus bens materiais e não pelo que são. Acho que não seja errado querermos um bem, como um carro ou um bom emprego, pois, como foi dito no começo, são desejos intrísicos do próprio homem, mas é errado julgarmos alguém pela suas posses e não pelo seu caráter, pelo seus valores e princípios éticos, ou seja, o ter em hipótese alguma pode sobrepujar o ser.

Link do video do documentário Criança, a alma do negócio: http://www.alana.org.br/CriancaConsumo/Biblioteca.aspx?v=8&pid=40

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Até que ponto o trabalho realmente dignifica o homem?



Os dias 6 e 7 de novembro foram de bastante agito e correria por parte dos vestibulandos, pois foram os dias em que as provas do Exame Nacional do Ensino Médio (o famigerado Enem) foram aplicadas. Eu tive acesso às provas e muito me interessou o tema da redação, que era: “O Trabalho na Construção da Dignidade Humana”. Como veemente defensor dos trabalhadores, redigi um singelo texto sobre o tema.
A relação do homem com o trabalho é de suma importância. Através do trabalho que o homem transforma a natureza e a si mesmo. É uma forma de ele estabelecer relações de interação social, de entrar em contato com o outro, com a alteridade e assim se desenvolver subjetivamente. É na arte da labutação que o homem cria verdadeiros feitos: grandes obras literárias e filosóficas, prédios colossais e escolas, arquedutos, casas, parques e as mais variadas coisas que podemos imaginar. O trabalho é lúdico e prazeroso, e afirma o nosso status de seres racionais e culturais. Da matéria-prima dada pela natureza podemos criar meios para facilitar as nossas vidas. É conhecida a frase do ditado popular que diz que "o trabalho dignifica o homem", e assim o trabalho também nos reveste de dignidade e respeito, nos enobrece e enriquece como pessoa.
Porém, se analisarmos a realidade concreta em que o trabalho é efetuado, perceberemos que em muitas situações o trabalho não enobrece o homem, mas o leva ao embrutecimento. Basta-nos observar que nas sociedades contemporâneas de economia capitalista a relação que o homem estabelece com o trabalho, muitas vezes, deixa de ser uma relação digna, lúdica e prazerosa e passa a ser de degradação, submissão e alienação. O trabalhador de uma indústria, por exemplo, vende sua mão de obra em troca de um salário realmente irrisório porque está muito aquém de suas energias gastas, e onde é obrigado a se submeter a uma jornada de trabalho extremamente estressante e maçante, que o degrada física e psicologicamente. Embora a classe trabalhadora tenha obtido grandes vitórias para a melhoria das suas condições de trabalho, o ritmo estabelecido pelas indústrias é ainda muito degradante e penoso. Ele submete o trabalhador a realizar movimentos repetitivos e mecânicos, que geram muitas dores na coluna e nos músculos, e, além disso, também acaba deixando-o sem tempo disponível para se dedicar a outras atividades; investir nos estudos e no seu crescimento intelectual e cultural, por exemplo. Muitas vezes o trabalhador tenta conciliar o trabalho com o estudo, mas a falta de tempo faz com que a pessoa se transforme em um verdadeiro acrobata, pois para realizar duas atividades simultaneamente ele tem que aprender a se virar de qualquer jeito.
Além do mais, o trabalho realizado dessa maneira separa o homem do seu produto final, alienando-o daquilo que ele mesmo produziu. Também o torna ignorante às questões de interesse público, como: a política, educação, saúde, constituição, entre outras coisas; enfim, deixa o homem alienado da própria sociedade em que se encontra inserido. Assim, o trabalho que deveria ser uma forma de proporcionar a construção da dignidade humana se transforma, dentro do contexto de produção da economia vigente, em algo realmente penoso, desagradável, enfadonho e alienante, o que em última instância descaracteriza o homem, transformando-o numa coisa. Retificado e coisificado, o homem passa a ser apenas um joguete, uma mera peça de engrenagem para movimentar a maquinaria do sistema capitalista. Vale a pena mencionar o clássico filme Tempos Modernos, do brilhante cineasta e ator Charles Chaplin (1889-1977), que retrata de forma cômica a realidade do trabalhador dentro de uma indústria. É engraçado, bastante crítico e compensa assistir!
O Filósofo e Historiador Alemão Karl Marx é conhecido como o grande crítico desse modelo de produção, e dentre tantas teorias que ele escreveu, se destaca uma frase: "a historia da humanidade é a historia da luta de classes", e um dos aspectos onde essa luta acontece é no trabalho, na relação empregado e empregador, proletário e donos dos meios de produção. O fato é que a sociedade é dividida em classes e camadas sociais antagônicas, mas que é encoberta pela ideologia construída pela classe social dominante do poder econômico e político. Tal ideologia nos passa um conjunto de idéias, e a idéia mais difundida é a de que fazemos parte de uma sociedade harmônica, onde todos têm as mesmas oportunidades e possibilidades de ascender socialmente, entretanto, essa afirmação é uma falácia e seria um absurdo acreditar nisso.
Assim sendo, nas sociedades capitalistas a pirâmide social é hierarquizada e a classe trabalhadora é a responsável pela sua sustentação, mas, no entanto, se encontra na última posição da pirâmide social. Assim, toda a riqueza produzida pela sociedade é produzida pela classe trabalhadora, todavia, a maior fatia do bolo fica concentrada nas mãos de um pequeno grupo. Esse pequeno grupo são os donos dos meios de produção, os grandes empresários e barões do capital, os banqueiros e as gigantes das corporações multinacionais.
Concluo que o homem só irá gozar de plena dignidade quando o trabalho lhe proporcionar um salário efetivamente justo, e creio que isso só acontecerá quando toda a riqueza produzida pela classe trabalhadora for dividida de forma verdadeiramente igualitária. No calor da práxis eu vivencio de segunda à sexta, junto com muitos outros trabalhadores, essa realidade, isso quer dizer que meu relato é empírico, pois provêm de minha própria experiência. No mais, quero dizer que no modelo de exploração do homem pelo homem o trabalho é alienado, e ao invés de dignificar o homem o embrutece. Isso me faz lembrar da raiz etmológica da palavra "trabalho", que deriva do latim tripalium que significa: "instrumento de tortura, usado para torturar escravos".

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Misteriosa e Mística Transilvânia



O relógio indicava 20:00 horas. Atravessava descompassadamente às ruas estreitas e sombrias. No horizonte a lua cheia continha um aspecto transcendente e místico, ela imperava majestosamente e entre densas nuvens negras e escassas estrelas, fitava-me. Sentia o vento gélido bater-me na face e como se uma força magnética me puxasse, a mesma que me trouxera mais uma vez a essa misteriosa cidade, fui levado à boate que lembrava (como tudo por aqui) as tavernas medievais por sua característica gótica. Sentado a mesa ao canto eu degustava uma taça do mais nobre vinho e via homens e mulheres engolindo, vorazmente, ao som do Doors, suas bebidas.
Uma espessa fumaça de cigarros e de diversas substâncias entorpecentes impregnava o ambiente. Eu também não me encontrava em sã consciência. Meus sentidos já estavam embriagados de tanto beber vinho, e embora não estive-se fumando, sentia a fumaça encher-me os pulmões. O clássico toca-discos entorpecia a todos, e a música levava-os ao êxtase. Da minha mesa via-os dançando freneticamente e às gargalhadas. Uma atmosfera mística e poética envolvia-os.
Em uma época de forte repressão e de moralismos viciosos a cidade era o lugar excelente para sentirmos verdadeiramente livres. Acho que é exatamente por isso que estou mais uma vez neste lugar. Sentia, assim como os demais freqüentadores, que podia fazer de tudo, principalmente de ser quem realmente sou - o que significava em não receber as ácidas críticas pelas minhas opiniões nada convencionais -, embora não me preocupasse com elas. Além disso, ninguém tinha a necessidade de pintar as faces com as famigeradas mascaras exigidas nas demais atividades cotidianas: trabalho, vida acadêmica, vida familiar, amorosa etc. Em todos os finais de semana as pessoas vinham para cá embebedar-se e se alimentar da liberdade que o local lhes proporcionava. E pelo ritmo que as coisas iam se processando provavelmente iria também tornar-me um freqüentador assíduo.
A boate se confunde mesmo com uma taverna dos tempos antigos, está localizada num sítio que se transformou em uma pequena e mística cidade, cercada por muitas árvores e arbustos, das quais uma se destacava das demais, fixada no meio da praça, pela sua aparência bizarra, cujos galhos se lançavam a rasgar o espaço. O proprietário é um velho rico e sádico que esbanja excentricidades. O chapéu em sua cabeleira, sua longa barba branca, sua roupa extravagante e sua baixa estatura me faziam lembrar um gnomo. Seu sonho sempre fora projetar uma cidade em que se vive longe das regras da sociedade, e onde as pessoas pudessem gozar de plena liberdade. E a misteriosa cidade construída por ele em nada lembra daquilo que se possa considerar como normal, começando pelo nome: Transilvânia. Tudo, na cidade, assemelhasse a Europa dos tempos medievais. Sua arquitetura fora projetada segundo os padrões da estética gótica da Europa medieval: ruas íngremes, asfalto de pedras, praça, calabouços, boates, hotéis e motéis; Tudo formulado segundo os moldes da estética gótica medievalesca. No que dizia respeito a sua geografia, Transilvânia, comporta um terreno de oito hectares, o equivalente a aproximadamente oito campos de futebol, cercados por todas as partes por altos muros, a única entrada são os imponentes portões de grades de ferro, cujas maçanetas são ornamentadas por pequenas e bizarras criaturas. Uma placa se destaca onde esta escrita com letras maiúsculas: TRANSILVÂNIA: É PROIBIDO PROIBIR. Não há casas, mas hotéis e motéis espalhados por todos os lados, e boates como essas com aparência de tavernas, que oferecem os mais diversos tipos de bebidas regadas a muita música.
Nesse estranho lugar também não se encontra nada que faz lembrar a realidade do mundo contemporâneo. Não existem agências bancárias, shopping centers, indústrias, supermercados e instituições do Estado. Há um modelo político próprio onde a lei máxima é: faça o que tu queres, pois há de ser tudo da lei. Outro fato estranho e curioso é que Transilvânia só abre seus poderosos portões nos finais de semana, ou seja, de segunda a sexta não é visitada por ninguém, pois se encontra fechada em seu mistério místico.
O sombrio lugar é visitado por pessoas que podemos considerar como fora dos padrões sociais, ditos normais, que vivem à margem da lei, e que transgridem normas pré-estabelecidas e valores morais da cultura emergente (Judaico-Cristã). Hippies, Góticos, Punks, Roqueiros, Metaleiros, Regueiros, Desempregados, Vagabundos, Ciganos, Bêbados, Poetas, Filósofos, Homossexuais, Bissexuais, Lesbicas etc. E todos os tipos de pessoas que fogem da normalidade e do senso comum, e por causa disso se tornam vítimas de discriminação e excluídas da sociedade conservadora e de "boa conduta moral". E assim vem para cá encontrando refúgio e acolhimento, sentido-se aceitas e em casa e onde possuem a liberdade de fazerem as próprias regras cujo único lema é o Carpe Diem do Poeta Latino Horácio.
Pude perceber que os freqüentadores da sombria cidade apresentam - além do comportamento “desviante” e fora da “normalidade” – outros traços que de certa forma os assemelham – e eu não me excluo dessa característica -: o ódio à repressão e aos valores convencionais; o amor as diferentes artes; o amor à ideologia libertária da anarquia e, por último, o fato de serem amadores das voluptuosidades dos prazeres mundanos. Desse modo, não é de se estranhar que orgias e bebedeiras são super freqüentes por aqui. Para eles, a urbe representa a libertação da opressão que a sociedade lhes impunha.
Aqui os heróis não são os astros do futebol ou as celebridades das novelas, mas os grandes poetas e pensadores. Principalmente Nietzsche e Crowley, que são aclamados e admirados por todos: um pelas suas idéias filosóficas de contundentes críticas à Cultura Cristã e o outro pelas suas idéias bizarras e demoníacas. Lord Byron e Baudelaire são os Poetas mais recitado nas boates - tavernas. E Dioniso é cultuado, onde sempre se ouvia, em meio a musica, proclamarem o nome do Deus pagão. Além do mais, para aguçar ainda mais a minha curiosidade, um manto de mistério e misticismo desenha a face da cidade. Dizia-se também que era habitada por seres e criaturas sobrenaturais, e que, durante as noites de lua cheia, uma bela mulher aparecia para seduzir os homens. Entretanto, pouco se sabe sobre essa roupagem mística que envolve os limites da misteriosa Transilvânia.
Transilvânia é realmente um lugar à parte do mundo. Situava-se numa região em que as câmeras e os holofotes da mídia não entravam, e a população de um modo geral não conhecia a existência de tal lugar. Mas depois de uma notícia divulgado pela imprensa há dois meses, sobre as atividades nada convencionais que aconteciam, críticas e difamações tornaram-se constantes por parte de membros das igrejas cristãs. Não se sabe ainda como essas informações vazaram, mas provavelmente foi um dos freqüentadores – concerteza infectado pelo verme do moralismo - que deve ter se assustado com o lugar e resolvera tornar público tudo o que acontecia ali. Os moralistas passaram a acusar os freqüentadores de um bando de pessoas devassas que viviam de forma desregrada, e que, por causa de seus comportamentos imorais, iriam todos queimar eternamente no fogo do inferno. Autoridades religiosas e políticas fizeram de tudo para fechar Transilvânia, mas os processos contra a cidade foram freados por meio de suborno e corrupção. Que ironia, se dizem pessoas de" boa conduta moral", mas não recusavam um bom montante de dinheiro. Para mim, eles não passavam de um bando de hipócritas.
Para passar o final de semana e saborear de todas as coisas (bebidas diversas, comidas, drogas, camisinhas, hotéis, motéis e principalmente sexo etc.) oferecidas em Transilvânia, você tinha que desembolsar cem reais, não é uma quantia alta levando em consideração tudo o que a cidade lhe proporcionava. Quem procurava por sexo fácil e sem compromisso estava no lugar certo. Aqui homens e mulheres poderiam se relacionar sexualmente sem se preocuparem com ligações afetivas, e ambos os sexos poderiam ter vários parceiros. Assim, a poligamia rolava solta.
Depois de ter experenciado tantos acontecimentos e te ter vivido tantas loucuras, me sentia renovado. Hoje é a quinta vez que venho passar o final de semana nesse sombrio lugar, e está se afirmando o que eu pensara, a cidade representa tudo àquilo que há anos vinha procurando. Fiquei sabendo de Transilvânia na universidade, onde eu faço a faculdade de Letras e pratico minha profissão de Poeta Vagabundo (sem mascaras e criticado pelas minhas visões de mundo) e sou amante de todas as grandes artes. Odeio trabalhar e sempre vivi no ócio criativo, pois amo passar horas labutando meus sublimes textos e lendo diversos livros - transitar pela imaginação era a minha maneira de fugir da mediocridade - não suportava a náusea que invadia a vida. Considero-me um libertino e um transgressor dos valores diluídos na sociedade e que norteiam o comportamento das pessoas - não consigo imaginar como alguém pode se submeter a tais valores que, em última instancia, assina um atestado de óbito à vida. Não sou nenhum Marxista utópico, - embora admire a obra desse grande pensador - mas um rebelde do sistema social vigente, pois, assim como os freqüentadores de Transilvânia, também não conseguia me ver nessa sociedade alienante e conservadora.
As pessoas me achavam um sujeito muito esquisito - me chamavam de bastardo insano e de louco – fui criado num orfanato e sempre que era adotado por uma família era devolvido, alegavam que eu vivia dizendo coisas absurdas e sem sentido. Acho que meus pais biológicos haviam pressentido que minha índole e meu modo de ser não iam se enquadrar aquilo que era considerado como normal, sendo também o provável motivo pelo qual não me quiseram; sempre fui de poucos amigos, e para suprir alguma falta afetiva vivia mergulhado nos livros. Enquanto meninos da minha idade brincavam de vídeo game, de bola e liam quadrinhos extremamente bobos, eu vivia debruçado na literatura e filosofia.
Ingressei-me na universidade e depois de dois anos sentia-me profundamente cansado com tanta idiotize e banalidade que tomava de conta do mundo acadêmico, de estudantes escravos da mídia, das merdas de reality shows e novelas, e de bandas e cantores medíocres fabricados pela ideologia da indústria cultural. Cansado do moralismo e da indiferença a tudo que era magnífico no curso, a saber: Literatura, Poesia e Filosofia que considero a minha Santíssima Trindade.
Na verdade a atmosfera vampiresca e a arquitetura lapidada pela estética gótica me lembravam os contos sombrios e cheios de terror de Edgar Allan Poe, e isso me deixava extremamente motivado e cheio de vida, e expulsava a maldita depressão que ultimamente me vinha dominando. Não sei por que, mas o sombrio, o gótico, o ambiente lascivo, os vinhos, as substâncias alucinógenas e inteligentes e belas mulheres de pele alva muito me atraem. O que me da à absoluta certeza de que também encontrei em Transilvânia meu acolhimento.
Pedi mais vinho e enchi a taça até a borda. Olhei para as luzes; observei que estavam fracas, o que dava ao ambiente um ar sombrio. Lá fora a lua cheia continuava a imperar mística e majestosamente entre nuvens e estrelas. Via a sua luz banhar a cidade e a atravessar as vidraças da janela batendo-me na face. A música acalmara, as pessoas se esfregavam despudoradamente entre si e começavam a se despirem. - “Viva ao império dos sentidos, viva a Dioniso”- bradavam completamente bêbados; e eu observava-os degustando um delicioso vinho. A taça na mão direita e um poderoso alucinógeno, na esquerda.
- “Há mais mistérios entre os céus e a terra do que pressupões a vossa vã Filosofia” - disse-me um estranho que se aproximou e se sentou na cadeira ao lado.
- Hamlet de William Shakespeare- disse-lhe
- Tenho lhe observado, já lhe vi outras vezes por aqui, seus olhos são indagadores.
- Hoje é a quinta vez que venho a Transilvânia- respondi.
- Sou freqüentador assíduo, e conheço todos os mistérios místicos da cidade.
- Místico?- perguntei-lhe
- Da Rainha da Noite e de sua sedutora beleza.
E assim ele me contou sobre um misterioso mito que cercava os limites de Transilvânia. Falou-me que nas noites de lua cheia, ou como também se costumava chamar, lua negra, uma bela mulher feita de sangue e desejo, de corpo esbelto, cabelos ruivos, pele alva, lábios lânguidos e olhos negros, profundos e sedutores - apresentava-se completamente nua para um homem -, escolhido meticulosamente por ela. Disse que ela era perita em seduzir homens solteiros, que lhe apresentava grande virilidade e apetite sexual, e deles sugava sua energia vital depois de uma noite de ardentes orgias. Disse-me que na bíblia ela é conhecida como a Rainha do Sabbath, aquela que tentou seduzir o Rei Salomão, e que por ter reivindicado seu direito de mulher como sendo igual ao homem, fora expulsa do Jardim do Éden, e transformada, passando a ser conhecida como um demônio alado noturno assolando o mundo antigo. Seu nome foi apagado da historia da cultura ocidental pelas autoridades eclesiásticas da igreja católica.
- O catolicismo em tudo coloca as mãos- disse-lhe.
- Sim, e distorce a historia e escolhe os heróis - disse o homem logo após acender seu cigarro.
- Como havia dito, eu o tenho observado. Eu e minha companheira de vermelha encostada no canto da parede.
Olhei na direção em que ele me indicou através de seus olhos. Observei dos pés à cabeça a lindíssima mulher que acompanhava aquele sujeito, parecia conter a beleza de mil donzelas virgens. Porém uma beleza ora angelical ora demoníaca, ora pura ora pecadora. Sua face parecia ser desenhada pelas mãos dos deuses e seu corpo belo parecia uma escultura esculpida pela luxuria e lapidada com sequiosos e lascivos desejos; uma verdadeira obra de arte feita por Deus e pelo Diabo. Ela fazia acender e explodir minha libido, fazendo-me almejá-la nem que seja por um segundo.
- Eu e ela entramos num consenso - prosseguiu o sujeito - e vou lhe falar sem pestanejar: o que acha de passar a noite conosco?
Embora bêbado e a beira da insanidade, provocada pela substancia ilícita, entendi perfeitamente o que ele pretendia. Sexo a três até que fazia parte de minha fantasia sexual, porém, eu e mais duas mulheres e não com outro homem, como pretendia o tal sujeito. Sou totalmente heterossexual e nunca na minha vida havia imaginado a possibilidade de deitar-me com uma mulher e mais um homem e só de pensar sentia náuseas profundas, entretanto, diante dessa magnitude beleza, diante das límpidas águas de um riacho e da eclosão de pura poesia, torna-se demasiado difícil de recusar a proposta. Mas não - digo não com extremo pesar e extrema angustia - meu orgulho e meu ego falam mais alto, portanto, vou dispensá-lo sem lhe dá nenhuma chance, mesmo sabendo que poderia beijar os lábios volumosos dessa Afrodite.
- Não, obrigado! - falei gaguechando um pouco e hesitando.
Ele titubeou. Senti que queria tocar-me, mas meu semblante nada contente repeliu suas investidas, então, levantou e foi até a belíssima mulher. Começaram a se beijar ardentemente, ele a tocou firme na cintura e as mãos passeavam pelo corpo e lentamente iam subindo até os macios e belos seios, notei que ela olhava provocativamente e de quando e quando sorria com malícia para mim. Senti demasiada inveja e por um momento queria está no lugar daquele sujeito. Passaram-se alguns minutos, e ele ainda a beijava, a tocava, a acariciava. Pararam, ele sussurrou algo no ouvido dela, - ela sorri para mim, um riso hipnotizante, que me deixa devaneando. Ele andou entre as pessoas, foi até o balcão, pediu uma bebida e em seguida saiu da boate-taverna, deixando-a sozinha. Esse era o meu momento, em um único gole bebi todo o vinho que estava na taça, levantei abruptamente e ao olhar ela já não estava mais lá, havia sumido. Como poderia sumir em questão de segundos? Não conseguia acreditar, voltei a sentar invadido por uma grande frustração e uma forte melancolia. Restava-me esperar, talvez ela volta-se. Passou-se meia hora, uma hora e ela não voltou.
Olhei por todas as partes e observei que todos se acariciavam, se apalpavam, se beijavam, estavam ensandecidos, mergulhados no mar de desejos. Na verdade, eu estava preste de presenciar uma orgia sem fazer parte dela. Será que de todas as noites que passei em Transilvânia essa será a que passarei sozinho?
O relógio marcava 3:00 da madrugada. Estava cansado e bêbado e o alucinógeno me fazia perder a noção da realidade. Lá fora o frio persistia e o vento murmurava.
Depois do meu último gole coloquei o casaco e percorri os interiores da noite gélida. A lua observava-me dando à minha sombra um ar fantasmagórico, parecia que alguém estava à espreita. Passei a ver misteriosos olhos que brilhavam na tenebrosa escuridão - era uma coruja que me fitava e soltara uma torrente de gritos -, voou e pousou na bizarra arvore da praça, passei por ela e pelos arbustos. Ouvia sussurros. O frio deixara minha respiração ofegante. Apressei os passos, fui diretamente para o hotel em que estava passando as noites.
Ao chegar, debrucei-me na cama. Após fechar os olhos senti uma presença. Olhei, mas minha visão estava fraca e enegrecida. Havia de fato alguém, uma silhueta espessa, alta e quente que exalava um aroma delirante.
- Quem está aí?
- Eu vi o quanto você me desejava.
A voz ressoou harmoniosamente como as notas de um concerto musical.
Aproximou-se completamente nua.
- Possua-me, meus quadris são castos, virginais, fortes, e minhas coxas são macias e lisas...
Acordei, a luz do sol passava pelas frestas das janelas, havia amanhecido em Transilvânia. Olhei por todas as partes, não havia nenhum vestígio da noite passada. A porta não estava completamente fechada. Será que fora um sonho?

FIM!

sábado, 25 de setembro de 2010

O Deserto e o Peregrino


O Peregrino cavalga no silêncio misterioso do deserto. Seus passos descompassados metidam por sobre às aréias cristalinas, e a brisa do leste beija-lhe à face. Afável, os ventos murmuram aromas suaves que embriagam-lhe os sentidos. O peregrino, caminha, desconcertado, pelo mar de aréias, em busca do conhecido aroma; suas mãos trêmulas se lançam no espaço numa procura insana pelo que sentira durante toda a sua vida, mas que o tédio e a mesmice havia dissipado.O espesso véu do horizonte cobre-lhe o rosto, fazendo-o suar gotas de sangue. O sol torna-se escaldante e derrama sua luz translúcida e brilhante no leito do deserto, deixando-lhe ofegante e quase sem respiração. As horas se passam, e o Peregrino quase inconsciente continua sua busca incenssantemente.
A sede aumenta sua ânsia e ele debruça seus olhos na vermelhidão desertica. Para, se absorve em profundo silêncio e procura escutar as vozes do deserto.
- O homem e sua ambiciosa busca.
Ele escuta nitidamente e se apresenta para a imensidão que cobre-lhe por completo.
- Sou um Peregrino Poeta, vim para o deserto para embriagar-me de novas experiências e de me reconciliar com o meu aroma, outrora amante dedicado, mas agora ausente, enchendo-me de dor e aflição!
- Homem mortal, sua busca é diferente de outros que por aqui passaram. Veja, como o homem, embora coberto de vaidades e de ambições desmedidas, é tão pequeno frente a mim, sobrepuja-se à minha imensidão sem fim.
O Peregrino-Poeta ouve a voz à trespassá-lo.
- Sim, mas não submeto-me a tais caprichos, pequenos e mesquinhos. Minha busca é pela vida, por aquilo que me faz sentir viver plenamente.
- O que você busca? - Perguntou o Deserto.
- Meu aroma, a poesia mais perfeita e completa.
- Mas por que veio procurá-la em meu manto? Perguntou-lhe novamente o Deserto.
- Queria afastar-me das multidões dos grandes centros urbanos, da pedra de selva e confusa. Buscar o Silêncio e a Solidão.
- Aqui está sozinho, e eu o vi andando e deixando seus passos por sobre mim. Vejo que está ofegante e muito cansado, com fome e com sede talvez?
- Sim, mas valeu a pena, pois já o vi e a preencher meus pulmões. Além do mais, meus dias estão se definhando, o tempo roubou-me a juventude e hoje só busco o mais perfeito dos poemas. Minha obra prima, e para isso eu precisava meditar no Silêncio e na Solidão, longe da confusão das cidades.
E assim o Peregrino-Poeta e o Deserto estavam Sendo um no outro na e pela Linguagem. A imensidão do deserto era o que ele buscava, para se reconciliar com seu aroma de poesias, e assim fazer sua última obra, a obra prima de sua vida.
O Deserto silencia-se e o Sol se deita no poente longíguo. O Peregrino-Poeta, quase sem forças, continua sua jornada. Sua respiração fraca, e seus olhos embaçados exergam por entre as trevas sombrias da noite...
Ele sorri e adormece.

Ano Eleitoral

Estamos no ano de 2010, momento histórico importante para a nação brasileira, pois é ano eleitoral, de cada pessoa exercer plenamente sua cidadania, decidindo os rumos do país por mais quatro longos anos.
O Brasil é um país de riquezas naturais surpreendentes, nossa fauna e flora são belíssimas. Politicamente, vivemos numa sociedade de regime republicano e democrático, de ideologia neoliberal de um modelo econômico capitalista, o que levam todos os bens produzidos no país a serem comercializados. Somos também uma nação de grande diversidade cultural, fazendo de cada região ou até mesmo de cada estado um denso caldo cultural. A cultura de um povo revela a sua identidade (aqui está descrito de uma forma ampla, Antropológica), como os valores, crenças, hábitos, costumes e modos de ser e pensar que caracterizam uma civilização. A nossa cultura, especificamente, foi construída tendo como alicerce três matrizes: cultura indígena, africana e luso-européia.
Como vivemos num mundo culturalmente heterogêneo, somos levados a acreditar que a cultura não sofre influências de forças externas de nenhuma forma (aqui não está colocado no sentido amplo, Antropológico), no entanto, a realidade nos mostra que não é bem assim. Nas últimas décadas presenciamos um avanço avassalador da tecnologia, em diferentes ramos do conhecimento, como, por exemplo, as tecnologias atreladas aos setores de comunicação (rádio, televisão, internet, celular). Nesse sentido, podemos dizer que a cultura democratizou-se, mas não é o que vemos e nem presenciamos. Pensamos também que não há nenhum resquício de ditadura no Brasil. O que podemos dizer e acreditar, devido ao avanço tecnológico no ramo das comunicações, é que realmente a informação e a cultura chegam aos "cidadãos" brasileiros de uma forma livre e democrática.
Política, economia, cultura, comunicação e mídia estão fortemente entrelaçadas. Qual a função da economia num sistema capitalista? Resumidamente que atenda o tripé: produção, consumo e lucro. Qual a função da política? A origem etmologica da palavra Política é proveniente da palavra Grega Politike (política em geral), sua origem vem da época em que os gregos estavam organizados em cidades-estados chamadas Polis. Política significa a arte de governar, promulgar leis para o benefício dos "cidadãos" de uma dada sociedade. E da comunicação? Seria informar a população dos fatos e acontecimentos decorrentes do mundo. E a cultura, o que seria? Tentar definir a cultura é muito difícil, diria até impossível, dada a sua dimensão. Mas vamos tentar de uma forma bem condensada e simples (se é que isso é possível): Na Antropologia conceitua-se Cultura, em um dos seus vários aspectos, como o conjunto das ações, produções e dos feitos humanos, através da transformação pelo trabalho humano da coisa dada pela natureza.
Assim, cultura abrange todos os feitos humanos, indo desde o simples martelo de prego até a construção de complexas arquiteturas do mundo moderno. E a mídia? Mídia e comunicações estão fortemente conectadas, portanto podemos afirmar que são interdependentes.
Como vivemos numa sociedade de economia capitalista, todos os bens e recursos naturais são confeccionados e extraídos no sentido de serem comercializados. Nisso, a mídia, a propaganda e a publicidade têm um papel fundamental. De estimular a população a consumir (muitas vezes aquilo que não precisamos). Portanto, política, economia, cultura, mídia, comunicação gira em torno de um único objetivo: a de fazer a população consumir.
Como foi dito no início do texto, vivemos um ano importante, um ano de decisões políticas, de decidirmos quem irá governar o país por mais quatro anos. Mas será que estamos amadurecidos e conscientes politicamente para tomar uma decisão tão importante assim? É lei os candidatos exporem seus planos políticos na televisão, o que pretendem e quais são seus projetos para a melhoria da sociedade. Mas como tudo gira em torno de lucros e de permanência do Status Quo, os principais candidatos a serem o possível presidente da república já foram formulados, como na forma de um jogo de "cartas marcadas" para que uma classe dita dominante se mantenha no poder político e econômico.
Vale lembrar, que esse ano também foi ano de copa do mundo, e como o futebol está fortemente enraizado na nossa cultura, muitas vezes, infelizmente, nos deparamos com comentários poucos engajados politicamente, mas profundamente especializados futebolisticamente. A mídia tratou a copa do mundo como um grande espetáculo. Foi um show de imagens, os jogadores foram captados por todos os ângulos. O mundo do futebol é visto também como uma mercadoria, de transações milionárias e é bastante difundido pelos meios de comunicações de massa.
 Ano de copa do mundo e ano de política, qual dos dois termos é mais usado cotidianamente pelos brasileiros, ou melhor, qual dos dois eventos é visto como mais importante pela população? Como a mídia induz ao consumo e ao entretenimento, o futebol encontra-se mais presente nas palavras proferidas pelos brasileiros do que a política e visto também, por muitas pessoas, como de maior importância (além disso, a forma como a mídia conjuntamente com a ideologia da industria cultural atua na sociedade, impondo as nossas preferências pessoais em relação à música, à cultura do futebol etc.
Tratando o esporte de uma forma mais importante que a política, essa imposição seria um resquício da ditadura. Uma forma sútil de ditadura midiática.Há verdadeiras pessoas especializadas no assunto futebolístico, e muitas pessoas desentendidas da vida política. Basta observar, por exemplo, no ambiente de trabalho, nos intervalos da jornada de trabalho, os funcionários geralmente se reúnem para conversar e o tema bastante discutido é o futebol: "Você viu o Flamengo ganhou", "o Palmeiras perdeu e o Fluminense está na ponta do campeonato brasileiro". "Quantos gols incríveis no final de semana, um mais bonito que o outro". É muito comum ouvirmos comentários voltados pro futebol nas paradas de ônibus, nas ruas, nos barbeiros etc. Todos discutindo minuciosamente o assunto, como especialistas. "Você viu o político x tem ótimas propostas"? "Mas o político y quer realmente fazer uma mudança verdadeira na sociedade brasileira, e além do mais ele é socialista e para mim esse sistema é mais justo que o capitalismo”. Assunto desse calibre infelizmente é muito incomum e raro no dia a dia da população.
 Se um dos papéis da mídia seria informar, então o papel dela seria também o de educar a população no sentido de estimular à conscientização política, mas como os meios de comunicação estão a serviço das classes dominantes, o que vemos, muitas vezes, é desinformar, alienar e implantar uma cultura de consumo.
 Este ano vamos decidir os rumos do Brasil. Na lógica, teríamos que presenciar as pessoas discutindo e debatendo sobre as propostas políticas dos candidatos, e no dia das eleições votarmos conscientemente. Uma sociedade realmente democrática não se resume no fato dos "cidadãos" votarem, mas também de terem uma opinião política consolidada. Numa democracia, o poder está nas mãos do povo. Isso quer dizer que os membros da sociedade são os responsáveis por decidirem os seus representantes, mas o que vemos e presenciamos são pessoas indiferentes e alienadas politicamente, que não percebem o quanto a política faz parte do seu dia a dia, e em todas as esferas sociais. Democracia é também sinônimo de justiça social, de igualdade, e de distribuição igualitária das riquezas e renda econômica para o usufruto da população.
 Somos uma nação de grandes riquezas naturais. A diversidade cultural também é uma forte marca da identidade brasileira. Somos uma nação republicana e de uma democracia ainda muito jovem, passamos, recentemente, por um período histórico bastante conturbado, de ditadura militar. Vivemos num sistema econômico capitalista onde a mídia é dominada por uma elite burguesa, e ela exerce seu papel de uma forma para estimular o consumo, o entretenimento e muitas vezes de desinformar a população das questões políticas. Para exercemos efetivamente a nossa cidadania deveríamos nos ater mais às questões políticas, e também de gostar do assunto sem achá-lo chato e enfadonho. De vê-la como algo importante, e de também percebermos o quanto a política está presente nas nossas vidas. Só assim que seremos verdadeiros cidadãos sem aspas, conscientes dos seus direitos e deveres, e, conseqüentemente, membros de uma sociedade efetivamente democrática, onde o povo estaria no poder e não uma minoria burguesa e conservadora de direita.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Para a Poesia

Para beber do néctar da poesia é preciso passar por um verdadeiro processo de desprendimento. Abrir mão de filosofias várias, do saber ciêntifico e escolado e das amarras dos signos da qual fomos submetidos lingüística e culturalmente.
Despir da consciência o denso véu que a envolve e lavar a alma impregnada das sujeiras dos simbolos.
Abrir os olhos enferrujados e empoeirados, e quebrar as algemas que inundam os sentidos de códigos e significados.
Desconstruir os muros feitos de blocos de conceitos.
Transgredir regras gramaticais e andar a contra mão do dicionário, ser agramatical.
Para a poesia não é preciso demasiada inteligencia, ser um intelectual de praxe; mas de sensibilidade, de ver as coisas nas entrelinhas. Até mesmo as coisas que consideramos banais e ordinárias tem grande estima, pois elas possuem beleza, tem poesia!
O ócio também é de grande estima, assim o poeta pode se dispor de sua natural vagabundagem de fazer poemas.
Aprender a desaprender, desnudar os olhos, amar incondicionalmente as palavras e vê-las nuas no banho ou na chuva.
Enfim, é preciso ser oleiro e construtor de palavras, mergulhar em seu emaranhado de possibilidades... e voltar a ser criança e ver como se fosse a primeira vez.